Spoilers, Sweetie! S08E03 – Robot of Sherwood

ss capa s08e03

Ô da poltrona, se segura que tem episódio engraçadinho essa semana!

Começo essa crítica por um mea culpa: meus episódios favoritos de Doctor Who envolvem plots rocambolescos, mortes absurdas & terríveis e, principalmente, a problematização um ser que viveu o suficiente para ter no currículo tanto feitos heróicos quanto erros terríveis. Tenho de me lembrar constantemente que a série não é apenas sobre isso. Estamos falando de uma franquia que tem uma faixa de público vasta, e que os  temas serão, por isso mesmo, mais amplos do que o meu espectro de interesse. Essa enrolação inicial é só para dizer que Robot de Sherwood é uma aventura engraçadinha com uma “celebridade” histórica, o que não é muito a minha praia. Mas, embora eu tenha torcido o nariz para o episódio, vou tentar discuti-lo aqui com alguma justiça, tentando deixar de lado o meu gosto pessoal.

O episódio começa com a grande pergunta do Doutor às pessoas que com ele viajam: “De todo Tempo e Espaço: onde você gostaria de ir?”. O desejo de Clara é conhecer Robin Hood e sua gangue, os míticos ladrões medievais que roubavam dos ricos para dar aos pobres. O Doutor, convencido de que Robin Hood era apenas uma invenção, ainda assim estaciona a TARDIS na Floresta de Sherwood em pleno século XII… apenas para dar de cara com o homem em carne, osso, madeixas loiras de comercial de shampoo e clareamento dental em dia.

É o suficiente para o Doutor passar o episódio inteiro duvidando da existência não apenas do personagem, mas de todo o cenário. O clima parece muito ameno, a lenda muito bem contada. É preciso testar todos os homens e procurar as falhas no cenário. Será uma colônia espacial? Uma recriação da lenda com andróides?

 Quando um dos soldados se revela um robô durante o famoso torneio pelo melhor arqueiro do condado, o Doutor finalmente sente que está em casa, em terreno conhecido. Descobre então que o xerife de Nottingham está mancomunado com uma nave de robôs quebrada, camuflada como castelo. (Aliás, é muita nave alien quebrada nesse planeta, querido leitor. Comece a suspeitar da sua vizinhança, a verdade está lá fora!) E que o ouro dos impostos está sendo usado para reparar os danos dela (?). Eu sei, é preciso chutar o balde em relação ao plot, porque o lance dos robôs se enrola/desenrola de uma forma um pouco menos crível, mesmo para os padrões, digamos, elásticos da série. Mas como assim uma flecha de ouro era o suficiente para derrubar a nave?!?!? Não, nops, não vamos por aí senão esse texto não acaba hoje.

Robot of Sherwood está menos para o Robin Wood do Kevin Costner do que para, digamos, um Princess Bride da vida, mais uma farsa do que uma aventura ou comédia propriamente dita. O tom  é mesmo o estranhamento e o riso que surgem no contraste entre o ~zueiro~ bando de Robin Hood e o mau humor do Doutor. E que funciona em parte do tempo, mas acredito ter sido exagerado demais. O nível de picuinha do Doutor com Robin é engraçado até que passa a ser irritante.

 Quer dizer, o duelo com a colher é divertido, até por ser uma referência à série clássica. (Em tempo: há um artigo ótimo do Metro sobre 8 referências nesse episódio que podemos ter perdido). Mas a partir do momento em que ele continua se comportando como um garoto birrento e isso interfere em sua inteligência – principalmente na cena da prisão – vai dando raiva. Crime ocorre, nada acontece, feijoada. Se formos analisar com cuidado, o Doutor só começa a se mexer para salvar o dia quando organiza o levante dos escravos para destruir os robôs, já quase no final do episódio.

Em compensação, a personagem da Clara tem apresentado crescimento nessa temporada, e isso é uma boa coisa. Não vou dizer que ela se desenvolveu, porque as linhas de histórias anteriores parecem ter sido abandonadas de vez (a Garota Impossível e a relação amorosa com os pais representada na folha de Rings of Akhaten). Mas ao menos ela me parece mais bem escrita agora. Funciona menos como acessório de cena e um pouco mais como personagem complexo, com vida e motivações paralelas às viagens com o Doutor.

O final apresenta a conclusão de uma ideia óbvia, porém bacana. Robin pergunta ao Doutor se é verdade que, no futuro, ele será lembrado não como homem, mas como lenda. Ao ouvir a confirmação, sentencia que isso é uma boa coisa. “A História é um fardo. Já as histórias podem nos fazer voar”.  Logo em seguida, o Doutor expressa ainda alguma incredulidade sobre Robin Hood ser mesmo real. Ao que Robin responde, mais uma vez como metáfora para a própria construção caótica atual do Doutor, que ainda não sabe quem é. “É assim tão difícil de acreditar? Que um homem nascido entre a riqueza e privilégios sinta- se oprimido por eles? A ponto de, uma noite, sentir-se compelido a roubar uma TARDIS para então viajar entre as estrelas lutando pelo bem”.

A trajetória de ambos se encontra quando nos perguntamos quais histórias importam mais: as que realmente aconteceram os as que criamos para atribuir sentidos (e por que não heroísmo) a um mundo que a justiça não é condição natural, mas um construto. “Você é o herói da Clara”, diz Robin. O Doutor nega, dizendo que não é herói. “Nem eu”, salienta Robin. “Mas se ambos continuarmos fingindo que somos, talvez consigamos ser histórias, afinal”.

Questões

– Ok, estávamos esperando a Missy de novo e fomos frustrados, certo? Jurava que a moça ia receber o Xerife de Nottinghan no “céu”. Mas tudo o que descobrimos é que os robôs que caíram na era medieval também estavam procurando a Terra Prometida. Ou alguma Igreja Intergaláctica anda fazendo um excelente trabalho de conversão do Universo à alguma religião maluca ou essa treta vai render horrores, e essa season finale promete. O que é o Paraíso e por que os robôs querem tanto chegar nele? E quem chega nele mesmo sem procurá-lo, como a soldado de Deep Breath?

– Tá bom, esse é um Doutor que rabisca o quadro negro. Já vimos isso outras vezes e novamente no início desse episódio. Mas o que é que ele tanto rabisca? Equações para achar Gallifrey? A Terra Prometida? Ou será apenas um subterfúgio para parecer mais inteligente, como o décimo quando usava óculos?

– E agora apenas pela implicância: se os robôs já eram de ferro, por que diabos usavam armaduras elaboradas com, inclusive, malhas de ferro? Apenas para ficar na temática medieval?

Duas observações finais

– A cena da luta de Robin com o Xerife foi cortada em respeito ao jornalista americano decapitado no Iraque. No script original, Robin corta fora a cabeça do Xerife, que, em seguida começa a falar. Ou seja: originalmente o Xerife era um robô. Embora essa revelação não signifique muito para o andamento do episódio, como será que isso pode ser relacionado ao plot maior da Terra Prometida? Essa profusão de androides quer dizer alguma coisa?

– O teaser de Listen não é fantástico? Mais empolgante que todo o episódio que o antecedeu? As expectativas por aqui estão altas… será?

E você, o que achou de Robot of Sherwood? A caixa de comentários taí pra isso. Até semana que vem. 🙂

13 pensamentos sobre “Spoilers, Sweetie! S08E03 – Robot of Sherwood

  1. Interessante que até agora, “Missy” tem apenas recolhido pessoas que o Doutor diretamente teve a ver com a morte (empurrou/convenceu a se matar o robo, não fez nda para salvar a soldado e talz), mas como foi o Robin quem derrubou o Sheriff, possivelmente ela não se importou. Capaz de lá na frente ela jogar td isso na cara do Doutor, todos que morreram por culpa dele e ainda questionar se ele se considera mesmo “um bom homem” (mó viagem minha, eu sei).

    Curtir

    • Não acho que seja viagem não. Já li outras pessoas fazendo comentários parecidos, e me parece bastante plausível que a Missy esteja colhendo as ~alminhas~ das mortes relacionadas ao Doutor. Em Listen ninguém morreu, então não deu pra comprovar a tese. Mas o episódio do assalto a banco tem cara de que vai conter um desenvolvimento de plot. As chances de algum sidekick morrer são altas.

      Curtir

  2. Adoro essas resenhas, as vezes deixo passar alguma coisinha e depois vejo aqui, ou simplesmente ver o episódio de outro ponto de vista.
    Parabéns Gabriela

    PS : Tô ansiosa pela resenha do ”Listen” *-*

    Curtido por 1 pessoa

  3. Apesar de ter achado um episódio leve e com vários momentos divertidos, este com toda certeza foi o episódio mais fraco da temporada até o momento. É incrível como o Mark Gattis não consegue resolver bem os conflitos no roteiro que ele mesmo cria. A maneira como o Doutor e o Robin Hood escapam da prisão é ridícula.

    PS: É impressão minha ou o Doutor esqueceu de recuperar a sua Sonic ScrewDriver? xD

    Curtir

  4. Foi um dos melhores episódios do Gatiss, na minha opinião. Senti saudades da tosqueira no plot e me diverti demais. A parte do ouro me lembrou um pouco Fires of Pompeii e tudo me leva a crer que a Clara vai realmente sair no Finale, mesmo que meu coração se negue. Ela está tão bem construída e apesar de continuar a não viajar full-time com o Doctor, agora temos mais interação com a vida pessoal dela.
    O preview de Listen me deixou com a pulga atrás da orelha e espero não me decepcionar como ocorreu com Night Terrors. Não que tenha sido um episódio ruim, mas não foi o que eu esperava. Mas diferente dele, Listen não foi escrito por Gatiss então tem chances de ser bem sério!
    Missy ainda é um mistério e com as fotos dela ao lado dos Cybermen, acho e ela tem feito propaganda sobre o planeta Promised Land usando a rede de comunicação deles. Talvez ela use o mesmo sistema que o Doctor usou pra ‘salvar’ a River e implante nos Cybermen.
    Acho que ele está procurando Gallifrey, ou pelo menos tentando lembrar das aulas de física da Academia pra desvendar como se chega no Universo de Bolso.

    Curtir

  5. Palmas aqui.

    Esse episódio com o Eccleston, a Rose e o Davies escrevendo ficaria ótimo.

    Ele destoa demais do que realmente importa nessa fase (a série abre com o Doutor querendo saber se é bom ou ruim, onde está Gallifrey, quem é Missy?) e no meio de tudo isso tem um episódio engraçadinho com Robin Hood? Fala sério, ninguém quer saber de gracinha com os pimpões do Robin Hood.

    Concordo plena a mente contigo que no começo, a implicância do Doutor é o que segura o episódio, mas depois ele fica tão tonto quanto o Robin (que, como você disse, rebaixa a inteligência do herói que importa, aliás, pela segunda vez – ainda não engulo ele não ter adivinhado antes que ‘curando’ o Dalek ele obviamente ia atacar todo mundo, para né, tava na cara DOUTOR).

    Enfim. Listen parece que vai nos redimir a todos. Amém. E a Clara sempre linda, e gigante nessa temporada, pena que colocaram um par romântico que vai destruir esse encanto (ciumento memo).

    Curtir

Deixe um comentário